março 03, 2010

Sala Fantasma

Cheguei uma hora mais cedo na sala. Não havia ninguém lá ainda e as luzes estavam apagadas. Sentei-me no lugar de costume e puxei um livro para ler enquanto esperava. A porta semi-aberta deixava que os sons entrassem no recinto: uma professora falando na sala ao lado, passos de estudantes, o clique do mecanismo das luzes automáticas,as patinhas de um cachorro, caminhando vagarosamente. Sons que me davam uma incrível vontade de recostar a cabeça na classe e dormir.

Prestava atenção em cada pequeno barulho.

Já havia, há muito tempo, me desviado do livro que agora jazia sobre as minhas pernas, a página que lia, perdida sob outras que começavam a se fechar lentamente.

Uma porta fechando, pigarreios, passos, tudo tão monótono, porém me mantive interessada.

Eles se aproximavam. O som cada vez mais alto parecia vir de dentro da própria sala onde eu estava. Me virei rápido para trás, pensando por um segundo que poderia haver alguém alí. Uma bobagem, obviamente eu estava sozinha. Todas as cadeiras vazias, exceto a minha, não haveria como ter alguém escondido.

Os passos diminuiram a velocidade, o que me aliviou. contudo, o som que emitiam não pareceu diminuir, pelo contrário, pareciam ainda mais fortes e nítidos. Então parou.

Comecei a me repreender por estar tão intrigada com aquilo. Agora tudo estava tão silencioso que poderia escutar uma mosca na sala seguinte. Só que não havia mosca. Não havia nada que produzisse som, ou, se havia, eu estava ficando surda, pois o silêncio era tanto que não parecia haver alma viva naqueles arredores. Tamborilei os dedos na mesa e escutei seu som. Parecia estar abafado como se estivesse rodeado de paredes revestidas com espuma, o que nao podia ser normal, sendo que a sala era enorme e se encontrava vazia. Deveria estar ecoando.

Já me sentia mal com tudo aquilo. Levantei-me e saí correndo, sem me preocupar com os passos que recomeçaram no corredor, ou mesmo com os meus, que faziam um barulho tão alto que parecia que estava pisando num chão oco.

Sem pensar, entrei na primeira sala com a luz acesa. Parei logo que fechei a porta atrás de mim. Silêncio absoluto. TOdos os alunos, recostados em suas cadeiras, cabeças pendendo sobre os ombros, para trás ou para frente. Olhei para a professora, sentada também, o corpo apoiado por cima da mesa.

Estavam todos mortos.

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